Tribuna do Ceará

Assim como o Homem de Lata, do clássico Mágico de Oz, José Arivelton Ribeiro também tem seu corpo “composto” por lataria. Os dois homens perderam seus membros em um acidente de trabalho. O que os separa é que, ao contrário do personagem, o cearense está longe de precisar de um coração. No caso da vida real, foi ele quem criou o próprio braço mecânico, sem a ajuda de nenhuma Dorothy, e sim da internet.

A fantástica história de José Ari, de Fortaleza, foi descoberta pelo programa Gente na TV, da TV Jangadeiro/Band, que exibiu reportagem na última segunda-feira (20). O cearense, além de deficiente físico, nasceu surdo, depois de um problema durante a gravidez da mãe Maria do Socorro. Tudo culpa de um susto. Assim, ela considera a vida do filho um milagre.

José Ari estudou, terminou o ensino médio e desenvolveu sua linguagem de sinais, mas o ofício de consertar eletrônicos aprendeu com o pai. O cearense cresceu dentro da oficina da família, auxiliando no ajuste de televisões e outros aparelhos. Para o irmão, José Rusivelton, o Homem de Lata cearense sempre foi “inventor”. “Desde criança ele é assim. Enquanto eu brincava, ele gostava de ficar inventando coisa, fazendo réplica de carro, de navio de avião”, relata.

A perda do braço foi decorrente de uma descarga elétrica. Há dois anos e meio, José Ari subiu na laje de sua oficina, na tentativa de solucionar uma queda de energia que tomou conta do local. O rapaz acabou tocando em uma antena e sofreu uma descarga elétrica.

A mãe conta que, durante sua internação no hospital, José Ari chorava de dor, com o processo de necrose. “Ele pediu pra chamar a enfermeira e, do jeito dele, pediu pra que o braço fosse amputado. Ele me dizia que preferia perder um braço do que a própria vida. Foi a única vez que eu vi meu filho triste”, comenta.

Em uma casa humilde, José Ari, atualmente viúvo, mora junto com a mãe, o irmão e a filha Sara. Os três auxiliam o familiar apenas com a comunicação para quem não sabe a linguagem de sinais. De acordo com a família, o cearense é completamente independente. “Quando não tem gente em casa, ele se vira. Ele não gosta que ninguém fique atrás dele, querendo ajudar”, garante o Rusivelton.

Depois de fazer pesquisas na internet, Ari resolveu construir um braço mecânico, na tentativa de suprir suas necessidades. A peça foi feita há um ano e dois meses, mas ainda será adaptada. A prótese do braço direito pesa 5kg.

Feito peça por peça com sucata, parafusos, ligas de borrachas, panelas velhas e até cabos de freio de bicicleta, o homem se baseou no tamanho do braço do irmão para construir o próprio. Para usar o equipamento, ele utiliza uma meia no braço para se proteger de possíveis ferimentos.

Os movimentos do “braço de lata” foram fundamentados nos ligamentos de um braço de verdade. O sistema é aparentemente simples. Para mexer os dedos, José Ari movimenta os ombros. Se alonga os ombros, a mão abre. Se curva os ombros, a mão fecha. É dessa forma, que ele consegue desenvolver atividades simples, como cortar pão, pegar uma chave e até dirigir seu próprio carro.

O irmão conta que essa não é a sua primeira prótese. Ele já havia feito outra antes, mas não tão desenvolvida. Funcionava como uma espécie de gancho. “Meu irmão nasceu assim e sempre foi difícil pra ele conseguir interagir com a sociedade, mas ele sempre deu um jeito. Eu o uso como uma motivação todos os dias, ele é quem me coloca pra frente”, finaliza.

José Ari consegue levar uma vida normal. Trabalha, faz qualquer tarefa doméstica e ainda encontra uma maneira para jogar vídeo-game. Além do braço, ele cria outros artefatos, como um abajur, feito com garrafas de bebidas alcoólicas encontradas nas ruas. Um belo invento, mas nada como o incrível braço de lata.