Fernando Almeida

O presidente da Cooperlota David Pereira da Silva explicou um dos fatos mais curiosos e inusitados da novela do transporte complementar em  Araguaína. Na sessão da Câmara de terça-feira (11), ele revelou como a montadora Volare entregou 50 ônibus à sua Cooperativa, avaliados em R$  13, 6 milhões , sem sequer haver financiamento liberado.

Entrega da frota sem financiamento

David explicou que mesmo antes de ganhar a licitação, já havia empresas interessadas em vender os ônibus para a Cooperlota. E após vencer a concorrência, a Cooperativa ficou “agarrada em algumas promessas”. Mas depois de algumas coisas falharem, iniciou-se uma corrida contra o tempo para colocar a frota em circulação  nas ruas de Araguaína no dia 1º de março de 2015.

â??Fomos atrás da fábrica (Volare, no RS) que nos concedeu esses (50) ônibus. Eles acreditam tanto no projeto,(que) mandaram aqui representantes da empresa. Viram a realidade da cidade, consultaram toda a documentação do certame. E aí entenderam que era um projeto que não tinha nenhum perigo de dar errado. A cidade precisa, a demanda é grande e a frota é suficiente. (...) Então acreditam tanto, (que) mandaram fazer os ônibus e mandaram para gente. (...) Então aí se resume: a fábrica acreditou de mais no projeto.

O presidente da Cooperlota também disse que a montadora direcionou um advogado, gratuitamente, para auxiliar no projeto do financiamento junto ao Basa.  Mas, apesar do projeto ser “muito bem feito” a direção do Banco em Belém não aprovou a liberação dos R$ 13, 6 milhões pleiteados.

Sem garantias junto ao Basa

 Diferente da nota divulgada que atribuía a negativa à crise financeira, David admitiu que era por falta de garantias junto à instituição financeira. Ele reproduziu a fala do presidente do Basa em Belém, justificando a não liberação dos recursos: “só vou investir em projetos que estejam sobrando garantias. E o de vocês (Cooperlota) não tem todas as garantias que precisamos nessa conjuntura, nesse atual cenário do país.”

Vindos da clandestinidade

Ao explicar a formação da Cooperativa, legalizada em maio de 2013, o presidente disse que é cmposta por 45 cooperados. E que um grupo já atuava na clandestinidade, em concorrência desleal com a Lontra. “Uma grande parte destes já fazia transporte clandestino de carro pequeno (...) Eu soube deles, nos juntamos, fizemos umas três reuniões antes até que chegamos a ideia: vamos montar uma cooperativa, vê se vai acontecer uma maneira de trabalhar (na legalidade)”.

Indicação para estudo, antes da licitação 

David ainda disse que, quando o projeto era apenas uma ideia, ele indicou ao prefeito Ronaldo Dimas a Federação Nacional do Transporte Alternativo – FENATRAL–-para fazer  o estudo técnico de viabilidade econômica para implantação do sistema  de transporte complementar. O termo de Cooperação entre a Fenetral e a prefeitura de Araguaína foi assinado em 16 de gosto de 2013.  Só a partir de então, iniciou o processo licitatório.  Além da indicação, a Cooperlota concorreu sozinha e venceu a licitação, que segundo o presidente da AMTT, Gustavo Fidalgo, ocorreu tudo dentro da legalidade.  

Atraso e tempo se esgotando 

Em relação ao atraso que ultrapassa cinco meses, o presidente David alegou que está dentro da Lei e não está sendo irresponsável com a prestação de serviços. Também afirmou que o trabalho para regularizar a situação é incansável.  Argumentou que após o Basa negar o recurso, a alternativa foi pleitear o financiamento junto ao Banco da própria montadora.

 “De imediato, solicitamos ao Banco Moneo, que é um banco específico da Volare, que entrasse na situação. Porque já fabricaram os ônibus, mandaram pra cá.  Tem carro aqui que tem sete meses tomando sol e chuva. Não é mais viável pra eles pegarem esse carro de volta. (...) Então agora eles vão ter que achar uma solução. (...) O que espero é que não passe dessa semana. Pra nós da Cooprlota,  hoje, às vezes  um  não  seria menos doído que um sim demorado. Porque já estamos no limite”.

Notificação da AMTT

A AMTT notificou a Cooperlota na terça-feira (11) e deu um prazo de cinco dias para apresentar explicações.  A Cooperativa já prometeu iniciar os trabalhos por três vezes, mas nunca cumpriu os prazos.  Enquanto perdura o impasse, a prefeitura de Araguaína desembolsa o montante de R$ 825 mil mensais para subsidiar o transporte coletivo na cidade.

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