Ramila Macedo e Fernando Almeida/Araguaína Notícias

Já imaginou separar uma briga e acabar sendo apunhalado, ficando a beira da morte, depois levar o caso a Justiça e ao final sair com a sensação de injustiça? Essa é a revolta do enfermeiro Odilon Santana, de 32 anos, vítima de tentativa de homicídio em Araguaína, há dois anos. 

Ele procurou a reportagem para relatar sua descrença com o poder judiciário, que não aplicou pena de prisão ao agressor nem mesmo o indenizou. Também para ‘mostrar como funcionam coisas’ para quem tem influência, porque segundo ele, o agressor é filho de um policial. O caso em questão ocorreu no dia 1º de maio de 2014 e o julgamento realizado último dia 5 de maio deste ano.

Odilon contou que na época estava na companhia de uma amiga em um bar, quando se viu diante de uma briga de casal. Enfatizou que o marido, 21 anos na época, brigava com a esposa grávida de oito meses e exaltado chegou a ponto de agredi-la.   Odilon diz que a amiga dele jogou um copo com líquido no filho do policial na tentativa de conte-lo.  Ainda segundo a versão da vítima, irritado, o rapaz voltou-se contra a amiga dele e deu capacetadas nela.  

De acordo com Odilon, após as agressões, o rapaz saiu do local, porém retornou num curto espaço de tempo já em direção a ele e sua amiga, e começou a agredir novamente com capacetadas. Foi nesse momento que o enfermeiro interviu para separar.

Ele voltou desferiu a sangue frio a punhalada. (...) Foi tudo muito rápido, só lembro da saída do punhal, quente como o fogo, e dele dizer: Isso, é pra você aprender a não se meter mais em briga de marido e mulher” contou a vítima. O golpe foi tão profundo que atingiu seis órgãos.

Sabedor da gravidade do ferimento, Odilon disse que tirou a camisa e estancou o sangramento, sendo em seguida socorrido. Ele ficou internado no HRA por um longo período onde quase morreu. O corte em sua barriga levou 37 pontos, um pulmão murchou e hoje ele respira apenas com o outro.

Mesmo enviando a sentença à reportagem, Odilon pediu para não divulgar o nome do agressor, que segundo ele é filho de policial.  Para Odilon, aproveitando da posição do pai, o rapaz teve benefício na decisão final.

O caso foi julgado no último dia 5 em Araguaína.  O filho do Policial foi reconhecido perante a Justiça como autor do golpe contra Odilon. Entretanto, o agressor não foi preso, teve a pena convertida em restritiva de direitos. “E se fosse eu que tivesse feito isso com ele, como ficaria? Como terminaria?” questionou.

A família ficou indignada com o resultado do julgamento e contou que o agressor saiu de lá sorrindo e ajudando a defensora pública a levar ‘os papéis. ’ “Nós interpretamos isso como uma afronta à Justiça. Ele estava rindo da cara da justiça”.

A pedido da família, a reportagem não citou o nome do autor do golpe. Os familiares temem  represálias pelo fato da outra parte envolver o filho de um policial de Araguaína.