O presidente do Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev), Francisco Flávio Sales Barbosa, em entrevista após a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga supostos desvios da entidade, na tarde desta terça-feira, 26, admitiu a possibilidade de não recuperar cerca de R$ 90 milhões investidos. O atual responsável pelo instituto foi o primeiro nome a ser convocado pela CPI do Igeprev. Ele se recusou a falar na comissão sobre os investimentos de risco dos ex-gestores, o que irritou membros da comissão e o público que acompanhava a sessão.

Francisco Sales Barbosa afirmou que já existe prazo para recuperar as aplicações feitas pelo Igeprev. Segundo o presidente do instituto, há resgates previstos para o final deste ano e em 2015, entretanto, existe a possibilidade de perder "alguns investimentos". “Não se pode dizer que vai resgatar tudo. A tendência é recuperar, mas tem dois ou três que talvez não serão”, disse. O diretor de Investimentos da entidade, Odirce Soares do Nascimento, que acompanhava a entrevista calculou que a perda pode chegar a R$ 90 milhões.

O presidente do Igeprev acrescentou que seria possível recuperar o valor apenas através dos bens dos responsáveis pelo desvio. “Só vai recuperar bens pessoais dos responsáveis, que terão de responder à Justiça. Vai depender da Justiça”, reafirmou Francisco Sales, que ainda garantiu: “O Igeprev é feito para perdurar. Não vai quebrar nunca. É rotativo. O líquido é de R$ 400 milhões por ano que tenho para aplicar”, disse. A entidade arrecada com contribuições dos servidores e a rentabilidade dos fundos.

Acalorada discussão
A reunião da CPI do Igeprev com a presença de Francisco Flávio Sales Barbosa foi marcada por acalorada discussão entre os deputados e alguns manifestantes presentes. A sessão foi aberta pelo deputado Stálin Bucar (SD) às 15h20, dando a palavra a Sargento Aragão (Pros), relator e parlamentar responsável pela convocação do atual presidente do Instituto Previdenciário.

Aragão teve 20 minutos para realizar os questionamentos. No total, o parlamentar fez 11 perguntas a Francisco Sales Barbosa. Além das indagações feitas acerca dos investimentos da entidade, o deputado questionou o presidente do Igeprev se conhece José Carlos Carmartori, que citou como “lobista que presta serviços” ao ex-secretário estadual de Relações Institucionais Eduardo Siqueira Campos (PTB), ao deptuado federal Eduardo Gomes (SD) e ao governador Sandoval Cardoso (SD). Segundo o parlamentar, é “conhecimento de todos os funcionários do gabinete” e de Francisco Sales Barbosa que Carmartori faz “visitas freqüentes ao Igeprev”.

Óleo de peroba
O deputado Sargento Aragão exibiu durante a sessão um frasco com óleo de peroba. O ato atiçou os manifestantes presentes, o que causou reação do presidente da CPI do Igeprev, Stalin Bucar (SD). “Quero pedir uma manifestação pacífica. Vou pedir para retirar quem quiser fazer baderna”, disse o parlamentar. Os populares responderam afirmando que a “Casa é do Povo”. O deputado governista rebateu: “Infiltrar politicamente não vou aceitar. Deixem para gritar lá fora”.

“Não estavam sumidos”
A palavra foi dada ao presidente do Igeprev, que agradeceu Aragão pelas perguntas “bastante sérias”, e começou afirmando que a entidade tem R$ 2,1 bilhões de investimentos. Francisco Sales Barbosa ainda afirmou não houve dinheiro “sumido em momento algum”.

Sargento Aragão interrompeu o pronunciamento do presidente do Igeprev questionando sobre as aplicações “duvidosas” de gestões anteriores, especificamente sobre as ações que o Estado tem na rede de restaurantes Porcão. Ao que Francisco respondeu: “Não respondo pelos outros”. O parlamentar insistiu: "Nós queremos saber". e ouviu do presidente: “É um problema seu, não é meu”. Os manifestantes reagiram a declaração do presidente do instituto e gritaram: “É nosso!”.

“Não me interessa”
Mais uma vez, Stalin Bucar reclamou da interferência dos manifestantes. “Vou pedir para a Polícia Legislativa para retirar os senhores. Então, se atenham a manifestação pacífica”, disse o deputado. Após os ânimos dos manifestantes e deputados acalmarem, o presidente do Igeprev voltou a se desvincular das aplicações passadas da entidade. “O Porcão é um investimento feito no passado. Não sei quem fez e não me interessa”.

O deputado José Bonifácio (PR) agitou-se com a declaração de Francisco Sales Barbosa. “Você, como presidente do Instituto, tem que investigar e responsabilizar os culpados”, disse. As palavras do parlamentar renderam aplausos dos manifestantes e gerou discussão. Mais uma vez Stálin Bucar intercedeu: “Eu quero é disciplinar e ordenar os trabalhos, caso contrário, não vai dar para continuar aqui. Tem que ter ordem. Acho que temos maturidade suficiente, capacidade suficiente, para conduzir a situação de forma racional”, afirmou Stalin.

“O Igeprev está crescendo”
Novamente com a palavra, Francisco Sales Barbosa explicou o projeto de recuperar as aplicações do Igeprev. “Foi feito um termo de ajustamento de conduta no Ministério da Previdência Social”, disse o presidente, que ainda confirmou a solicitação do resgate do fundo e que está recebendo valores semestralmente. Por fim, o presidente afirmou: “Vocês têm que ajudar o Igeprev, não procurar onde está o dinheiro. Está tudo controlado. O Igeprev está crescendo”.

Stalin Bucar perguntou a Sargento Aragão se os questionamentos foram respondidos. O parlamentar disse que não e que o presidente do Igeprev "mentia". “Ele está mentindo”, disse Aragão, que desafiou: “Prova no documento. Traz o extrato”.

Após bate-boca, Aragão voltou a questionar o presidente do Igeprev, desta vez, sobre José Carlos Carmartori e Rogério Vilas Boas. Francisco Sales Barbosa adimitiu conhecer Carmatori, mas negou saber quem é Vilas Boas. O parlamentar interpelou em seguida: “E Eduardo Siqueira Campos, você conhece?”. O presidente do Igeprev respondeu com “muito menos”, o que arrancou risos dos manifestantes e gerou novo alvoroço.

Com a situação, o presidente da CPI, Stálin Bucar, decidiu interromper a sessão. “Espero que não nos culpem. Eu vou encerrar esta sessão."